Memórias da caserna
É claro que o exército quando quer inventar uma viadagem nova
sempre arranja desculpa. Neste caso a desculpa era de que a incidência de
câncer na próstata estava aumentando entre os jovens, daí a necessidade de
incluir o exame de toque na próstata no menu de exames do alistamento militar.
Eu não gostei daquela história. Principalmente porque eu estaria
fazendo dezoito e precisava me alistar. Corria pela cidade histórias de
jovens que saíram do quartel mais comidos do que cego em tiroteio, de forma
que pra aumentar minhas chances de não ser agarrado, chamei um colega que
praticava alguma coisa oriental que terminava em fu ou tsu, para nos
alistarmos no mesmo dia e local.
O nome dele era Zeca. Na verdade, era Rodiclei, mas achei por bem
chamá-lo de Zeca porque: 1- Rodiclei é foda!, 2- Zeca ia ficar melhor num
conto, 3- para preservar a identidade dele, afinal, hoje ele é casado, pai
de família etc.
Voltando ao assunto do exame, o médico era um grandíssimo filho da
puta, conhecido e temido por todos. Certamente a idéia do exame partira
dele, pois diziam que ele tinha alguma influência no alto escalão. A rotina
do exame médico ficara quase inalterada com a inclusão do toque retal,
primeiro todos ficavam de cueca, depois eram obrigados a ficar em fila,
um atrás do outro numa sala apertada, para depois entrarem todos na sala
do exame. Lá todos baixavam a cueca e ia o médico com um tenente, um por
um. Dava uma olhada no sujeito, mandava levantar o pau e assoprar e mão
enquanto olhava o saco, depois mandava o sujeito se virar de costas e tocar
nos dedos dos pés. Lá vinha então a dedada, e dizem que ele costumava a
demorar uns cinco minutos apalpando o interior de cada um para ter certeza
que a próstata estava em bom estado.
O sujeito, o médico, era também conhecido pelas piadinhas e
comentários que soltava durante o exame, e Zeca fora decidido e encher o
cara de porrada se ele nos incomodasse. O negócio é que pra nossa sorte, o
tal do médico adoecera feio justo no dia em que fomos, e teve que ser
substituído às pressas por uma tenente recém formada em medicina. Nunca
achamos que podia haver mulher bonita num quartel, ainda mulher daquelas.
Porque a mulher não só era bonita, como gostosa, e ainda usava uma saia
militar um pouco curta que o que a norma costuma estipular e decotes
generosos na parte superior do uniforme. Aquilo devia ser completamente
irregular, mas acho que soldado ou oficial algum reclamara.
O ambiente, que era tensão e nervosismo, se transformou num
alvoroço de jovens precisando descarregar testosterona, todos tentando
bolar um jeito de comer aquela médica. Mal entramos na sala e ninguém
conseguia esconder a ereção por baixo da cueca. Ela foi logo perguntando se
alguém tinha atestado e eu, como era míope, tinha. Eu e mais uns cinco
fomos liberados. Botei as roupas e fui pro lado de fora esperar Zeca.
Meia hora depois ele chegou. Com um baita sorriso no rosto. "Como
foi?", perguntei, "Acho que me dei bem!", "Como assim?", "Acho que a médica
tá gamada em mim?", "sério?", "sério". Fiquei em silêncio, ainda espantado
com a sorte dele em conquistar um gata daquelas. Ele perguntou, "Vem cá, se
existe penetração, então é porque houve sexo, não? É porque as pessoas
transaram, não é isso?", "é, acho que é", respondi, com ares de quem entende
alguma coisa do assunto. "Então transei com ela", respondeu.
Hoje, passados muitos anos, nunca mais vi ela nem soube o que lhe
aconteceu. Algumas noites ainda começo a tremer quando lembro daquele corpo
e daqueles lábios, e lamento por nunca mais tê-la visto, pelo fato de que
nunca a agarrei ou comi. Hoje, parando bem pra pensar, acho que Zeca também
não.
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